segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Antes & Depois

Admito que cheguei do trabalho cheio de vontade de vir ver isto.

Mas antes, um desabafo. A Francisca e eu voltámos da Eslováquia há quase 1 mês. Desde então que cada um se bate por se inserir na sua rotina, no seu trabalho, na sua vida.
O regresso depois de uma experiência como esta não foi de todo fácil.

A Francisca está hoje a fazer o seu estágio, em regime de psicóloga júnior, numa escola perto de Cascais. Eu sou estagiário numa sociedade de Advogados. O nosso trabalho pouco ou nada tem a ver com o que vivemos na Eslováquia. Ou então talvez tenha mais do que supomos. Ajudar é universal, e tanto o é para psicólogos como juristas, professores, médicos, artistas e por aí fora. Talvez tenha sido essa a maior lição que tirámos do SVE: em todo o momento e em n situações da nossa vida podemos usar e aplicar a consciência que moldámos, basta que queiramos recorrer a ela.

A nossa experiência chegou ao fim e já sentimos saudades das pessoas com quem trabalhámos durante dois meses, bem como dos espaços, das actividades, dos amigos que fizemos, da comida e da rotina.

Para ajudar a curar a ressaca do voluntariado, aproveitamos para agradecer, uma vez mais, a quem tornou isto possível:

- À Comissão Europeia, sem a qual não existiria fundos, acreditações, logísitica e, no fundo, sequer SVE;

- À Rota Jovem, que nos preparou e acompanhou desde o iniciou. Contámos sempre com a ajuda da Ana Ferreira, a quem reservamos aqui e sempre um agradecimento especial;

- To Lukas Kvokacka: your funny way to be just gets better and better as long as your ability to work hard increases every day! Thank you for your friendship!
- To Ms. Kvokackova: I don't know if you will ever read this, but you've been so kind with us at your home Barlicka;

- To our Professor Dovas: Slovak language still is a mistery for us, but we will never forget our lessons! 
- To Jana D'jadová: We miss you a lot! We're waiting for you to come to Portugal, adventurous girl!
- To Dominik: a friend of big adventures and lots of them to come, our small "baby", thank you so much!
- to Barbora, to Kwak, to Seo, Ye Jin, Maksym, Raquel, Sezin, Cláudia, Dani, Igor, Jana, Mirka and Olga: I don't know if you will read this, but you are all invited to come to Portugal (but not at the some time, agreed?) Somehow we fell you will receive this message. Thank you so much!
- To all Barlicka's employees: We remember our days with you all the time! Some day we will visit you, thank you for all your kindness :)

- Por fim, queremos agradecer à Sofia Trindade e à Representação da Comissão Europeia em Portugal, por toda a amizade e pelo que se segue abaixo. 


Explicar o que fizémos tornou-se, pela exaustão e dimensão dos acontecimentos, uma tarefa impossível. Agora trabalhamos de sol a sol, quase filhos para criar (calma...), somos gente c' responsabilidades, e por isso o tempo é escasso. Mas é seguro que tudo ficará para sempre na nossa memória...

... e também em video! Cá vai uma pequena montagem com o nosso testemunho (créditos e agradecimentos à Sofia Trindade).

http://www.youtube.com/watch?v=jj_FB5fdS3E







terça-feira, 24 de setembro de 2013

Quem quer sempre se entende

Estamos hoje a 5 dias de regressar a Portugal e a única coisa de que nos arrependemos foi de termos deixado o blog a ganhar pó. Acontece que (desculpas, desculpas, desculpas!) depois dos workcamps sobre os quais fomos escrevendo um bocadinho e depois de termos chegado da viagem pelos Países aqui à volta vimo-nos embrulhados no pós-férias na Barlička, coincidente com o início dos anos lectivos em quase todo o lado. Os horários a mudarem constantemente, as salas, os professores e os funcionários, obras e mudanças, as primeiras actividades, o que fazer, quando fazer... 

Ainda com o grupo do segundo workcamp, depois do jogo do contrabando

... a primeira semana foi caótica. Imaginem agora tudo o que, por norma, põe uma escola em alvoroço numa instituição com jovens que usam cadeiras de rodas, ou que simplesmente têm dificuldades motoras, adultos com, nalguns casos, profundos atrasos mentais, noutros apenas dificuldade de compreensão no que é dito e feito. 

 
As nossas aulas de inglês  
Nós fomos incumbidos de dar aulas de inglês, coisa que, na verdade, nunca tinhamos feito em circunstância alguma. Recordámos as nossas primeiras aulas na escola e lá fomos, aos poucos: primeiras frases, as cores, os dias, os números... Tentando nunca esquecer que tinhamos, de imediato, dois desafios enormes: estes jovens, apesar de já terem aprendido alguma coisa na escola, não falam inglês no dia-a-dia e toda a atenção que nos pudessem dispensar tinha de ser arrancada com jogos, teatros, músicas e pequenos filmes, bolas de cores e caixas, enfim, tudo o que não implique muita escrita - vários são os que não conseguem de todo escrever - ou muito tempo em esforço de concentração. 

 

 
Tem sido espectacular para nós perceber que, independentemente de os nossos estudantes terem notórias dificuldades e de falarem uma língua que nós estamos (bem) longe de perceber, temos arranjado sempre maneira de nos entendermos. E isso, quase que apenas isso, valia por si só esta experiência.

 

 
Para além das aulas participámos em tudo o que eles fizessem, desde passeios a jogos de tabuleiro, colares, barro, pinturas, origamis, teatros, bolos... A Barlička não é uma escola, mas antes uma instituição de apoio que procura desenvolver as capacidades dos jovens e dar-lhes um dia feliz, dia após dia. Tem sido com enorme satisfação que nos temos percebido do esforço dos funcionários e tutores e, em especial, das fisioterapeutas que, incansavelmente, os motivam para esticar, mexer e andar, mesmo quando parece ser tão difícil. 

 
Hoje de manhã a fazer scones

 E essa satisfação deu-nos uma das mais importantes lições desde que aqui chegámos, a noção de adaptar toda uma vida, hábitos e percursos, alturas e distâncias, espaços e tempos a um forma completamente diferente de coexistir em grupo e de ser feliz. Uma vez mais, tal como nos tinha acontecido com os seniores, o receio tomou conta de nós no início, especialmente o receio de os magoar, de fazer alguma coisa mal, de não perceber ou ser percebido. Passadas umas semanas tudo mudou e hoje sentimos que seremos sempre mais sensíveis a todas estas diferenças.

 
Esta fotografia é do segundo workcamp, onde fizémos um posto da alfândega de Portugal.
Antes da apresentaÇão, para entrarem, tinham que carimbar os passaportes

A fazer colares e brincos com massa fimo

Ao mesmo tempo fomo-nos dividindo para fazermos as actividades com os seniores, no seu dia-a-dia bastante mais calmo, especialmente agora que os workcamps com a malta jovem acabaram. Os funcionários deste piso mais idoso são uns verdadeiros heróis na sua capacidade de dar a estes idosos um bom dia na esperança de outro dia. 

Francisca e Pani Ana a pintar pinhas

Francisca e a Mónika


Enfim, o tempo voa e estamos quase de regresso. É difícil escrever sobre o que estamos a sentir, nesta quase despedida. Temos saudades de casa e sabemos que há uma vida diferente à nossa espera, mas sentimos que foi irremediavelmente modificada pelo que fizémos aqui. E isso o que é? crescer? tememos bem que sim. 

 

 

 Temos ainda muito para escrever, prometemos que o vamos fazer. Até breve! 


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O mensageiro da cidadania

O Serviço de Voluntariado Europeu é, para além de todo o auxílio e suporte que os voluntários dão às comunidades locais, uma ferramenta de construção da cidadania Europeia através da aprendizagem pessoal e colectiva. Como voluntários da União temos um programa e competências específicas a desenvolver, que devem ser adquiridas por nós com a disponibilidade e orientação da instituição de envio e, acima de tudo, da instituição que nos acolhe.
 
São oito as principais competências a desenvolver como Voluntário em Serviço de Voluntariado Europeu:
 
- Aprender a aprender;
- Desenvolver competências tecnológicas;
- Desenvolver a interculturalidade e o civismo;
- Aprender diferentes expressões culturais;
- Desenvolver a capacidade de trabalhar em equipa;
- Comunicar na nossa Língua;
- Comunicar em Línguagens estrangeiras;
- Desenvolver conhecimentos de lógica, ciência e raciocínio.
 
A desenhar o boneco da cidadania

 
Temos sentido que através desta experiência temos ganho um conhecimento bastante mais profundo dos assuntos Europeus e da realidade dos Países que compõem a nossa União. As conversas nos bares da faculdade, em casa, com a Familia, amigos e conhecidos não atinguem nem versam em profundidade a realidade Europeia, por muito estudiosos e informados que sejamos. Falta CONHECER, e nós estamos a sentir que a interacção com jovens com deficiências e com pessoas idosas tem moldado o nosso juizo como pessoas, como futuros pais e trabalhadores. Sentimos que a interacção com os Eslovacos, Polacos, Checos, Espanhóis, Coreanos, Belgas e Ucranianos, num permanente esforço de entendimento e trabalho conjunto tem modificado imenso o nosso juízo como cidadãos Portugueses e Europeus.
 
Mas o projecto de SVE não se basta com o nosso trabalho nem com linhas gerais de amizade, aprendizagem, solidariedade, etc, de tal forma que temos tido diversas actividades que nos obrigam a pensar, estudar e liderar.
 
INEX Messenger, Sarah

 
Uma delas foi realizada pela Sarah, voluntária Belga da INEX Slovakia (http://www.inex.sk)
depois de uma tarde de trabalho com o Seniores. A Sarah é a mensageira da INEX por toda a Eslováquia e o seu papel consiste em realizar um Workshop em cada Workcamp sobre a Europa e, neste ano em especial, sobre a cidadania Europeia (2013, ano da Cidadania Europeia, no 20º aniversário do Tratado de Maastricht).

Começámos com jogos de estimulo ao diálogo e trabalho de equipa: todos juntos tinhamos de inserir a caneta na garrafa ou tinhamos de encontrar o "par", de olhos fechados, apenas através de imitação de barulhos dos animais, ou simplesmente tinhamos de desfazer o nó.
 
Jogo de equipa, a caneta no copo

 
Desfazer o nó: foi difícil, mesmo com dois Estudantes de física da Coreia


Depois foi a vez do Quiz sobre a história e a geografia da Europa e da União Europeia, num jogo por equipas com um grau de dificuldade médio, alto para os Coreanos e para a nossa querida amiga Sezin da Turquia. Desde comparação de mapas do espaço Schengen, da União, do continente Europeu e dos Países que adoptaram o Euro até perguntas sobre os tratados e especificidades culturais dos diversos Países.
 
 
 
 
Depois, prioridades. O respeito pela opinião dos outros prevalece ou cede perante a importância de cuidar da Natureza? e é mais importante fazer voluntariado no nosso País ou num País Estangeiro? Participar activamente na Comunidade, Votar nas Eleições ou Pensar nas consequências dos meus actos foram algumas das prioridades que tivemos de hierarquizar em equipa, através do diálogo e da defesa dos nossos argumentos.
 
 
 
 
Depois dos grupos escolherem a sua hierarquia das prioridades, cada um teve de explicar as razões das suas escolhas

 
 
Por fim escrevemos uma carta a nós próprios, que enviámos por correio para o nosso País, para a nossa morada. O objectivo era recordar o nosso eu - que vive numa realidade diferente da qual estamos inseridos aqui - do que aprendemos e, acima de tudo, do que não queremos esquecer de ser, fazer e mudar.
 
 
 
 
O Boneco da Cidadania é um activista

 
Lamentavelmente foi preciso fazer voluntariado na Eslováquia para fazer actividades deste género. O nosso liceu já vai longe de facto, mas temos algumas dúvidas que as nossas escolas incentivem e estimulem desta forma - quase em jeito de escola primária - a construção da Cidadania Europeia e tudo o que isso envolve e obriga. Bem nos lembramos das nossas aulas de formação cívica, que tão pouco tinham de formação, quanto mais de cívica! ...
 
 
Enquanto voluntários em Serviço de Voluntariado Europeu temos direito a aprender muito mas temos direito também a dois dias por mês de descanso. Por isso, a Francisca eu juntámo-los a um feriado e a dois fins-de-semana e, de amanhã a 8 de Setembro vamos interculturalizar para a Polónia, República Checa e Hungria, onde conto (Afonso) fazer 23 anos.
 
Dovidenia!