quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O mensageiro da cidadania

O Serviço de Voluntariado Europeu é, para além de todo o auxílio e suporte que os voluntários dão às comunidades locais, uma ferramenta de construção da cidadania Europeia através da aprendizagem pessoal e colectiva. Como voluntários da União temos um programa e competências específicas a desenvolver, que devem ser adquiridas por nós com a disponibilidade e orientação da instituição de envio e, acima de tudo, da instituição que nos acolhe.
 
São oito as principais competências a desenvolver como Voluntário em Serviço de Voluntariado Europeu:
 
- Aprender a aprender;
- Desenvolver competências tecnológicas;
- Desenvolver a interculturalidade e o civismo;
- Aprender diferentes expressões culturais;
- Desenvolver a capacidade de trabalhar em equipa;
- Comunicar na nossa Língua;
- Comunicar em Línguagens estrangeiras;
- Desenvolver conhecimentos de lógica, ciência e raciocínio.
 
A desenhar o boneco da cidadania

 
Temos sentido que através desta experiência temos ganho um conhecimento bastante mais profundo dos assuntos Europeus e da realidade dos Países que compõem a nossa União. As conversas nos bares da faculdade, em casa, com a Familia, amigos e conhecidos não atinguem nem versam em profundidade a realidade Europeia, por muito estudiosos e informados que sejamos. Falta CONHECER, e nós estamos a sentir que a interacção com jovens com deficiências e com pessoas idosas tem moldado o nosso juizo como pessoas, como futuros pais e trabalhadores. Sentimos que a interacção com os Eslovacos, Polacos, Checos, Espanhóis, Coreanos, Belgas e Ucranianos, num permanente esforço de entendimento e trabalho conjunto tem modificado imenso o nosso juízo como cidadãos Portugueses e Europeus.
 
Mas o projecto de SVE não se basta com o nosso trabalho nem com linhas gerais de amizade, aprendizagem, solidariedade, etc, de tal forma que temos tido diversas actividades que nos obrigam a pensar, estudar e liderar.
 
INEX Messenger, Sarah

 
Uma delas foi realizada pela Sarah, voluntária Belga da INEX Slovakia (http://www.inex.sk)
depois de uma tarde de trabalho com o Seniores. A Sarah é a mensageira da INEX por toda a Eslováquia e o seu papel consiste em realizar um Workshop em cada Workcamp sobre a Europa e, neste ano em especial, sobre a cidadania Europeia (2013, ano da Cidadania Europeia, no 20º aniversário do Tratado de Maastricht).

Começámos com jogos de estimulo ao diálogo e trabalho de equipa: todos juntos tinhamos de inserir a caneta na garrafa ou tinhamos de encontrar o "par", de olhos fechados, apenas através de imitação de barulhos dos animais, ou simplesmente tinhamos de desfazer o nó.
 
Jogo de equipa, a caneta no copo

 
Desfazer o nó: foi difícil, mesmo com dois Estudantes de física da Coreia


Depois foi a vez do Quiz sobre a história e a geografia da Europa e da União Europeia, num jogo por equipas com um grau de dificuldade médio, alto para os Coreanos e para a nossa querida amiga Sezin da Turquia. Desde comparação de mapas do espaço Schengen, da União, do continente Europeu e dos Países que adoptaram o Euro até perguntas sobre os tratados e especificidades culturais dos diversos Países.
 
 
 
 
Depois, prioridades. O respeito pela opinião dos outros prevalece ou cede perante a importância de cuidar da Natureza? e é mais importante fazer voluntariado no nosso País ou num País Estangeiro? Participar activamente na Comunidade, Votar nas Eleições ou Pensar nas consequências dos meus actos foram algumas das prioridades que tivemos de hierarquizar em equipa, através do diálogo e da defesa dos nossos argumentos.
 
 
 
 
Depois dos grupos escolherem a sua hierarquia das prioridades, cada um teve de explicar as razões das suas escolhas

 
 
Por fim escrevemos uma carta a nós próprios, que enviámos por correio para o nosso País, para a nossa morada. O objectivo era recordar o nosso eu - que vive numa realidade diferente da qual estamos inseridos aqui - do que aprendemos e, acima de tudo, do que não queremos esquecer de ser, fazer e mudar.
 
 
 
 
O Boneco da Cidadania é um activista

 
Lamentavelmente foi preciso fazer voluntariado na Eslováquia para fazer actividades deste género. O nosso liceu já vai longe de facto, mas temos algumas dúvidas que as nossas escolas incentivem e estimulem desta forma - quase em jeito de escola primária - a construção da Cidadania Europeia e tudo o que isso envolve e obriga. Bem nos lembramos das nossas aulas de formação cívica, que tão pouco tinham de formação, quanto mais de cívica! ...
 
 
Enquanto voluntários em Serviço de Voluntariado Europeu temos direito a aprender muito mas temos direito também a dois dias por mês de descanso. Por isso, a Francisca eu juntámo-los a um feriado e a dois fins-de-semana e, de amanhã a 8 de Setembro vamos interculturalizar para a Polónia, República Checa e Hungria, onde conto (Afonso) fazer 23 anos.
 
Dovidenia!
 

domingo, 25 de agosto de 2013

1° workcamp: os Seniores parte 2ª (fotografias)

Durante as duas últimas semanas trabalhámos apenas com jovens adultos (entre os 20 e os 40 anos) portadores de deficiências físicas e/ou mentais (que em quase todos os casos se cumulavam). Sobre esses dias temos muito para escrever mas também muito com que pensar e reflectir: não é fácil escrever sobre o que fizemos, a experiência de tratar diariamente com pessoas que, apesar de tão diferentes em certos aspectos, vão manifestando semelhanças com qualquer outra pessoa, como nós próprios.  

Por isso adiamos os escritos sobre isso por uns dias; deixamos mais umas fotografias da nossa semana com os idosos...de quem já temos saudades! 

A preparar energizers, todos os dias, todos juntos! 



Ye Jin, Afonso, Pani Anna e Francisca



A Francisca introduziu a macarena!... 

... e os nossos Seniores seguiram o exemplo! 







O grupo todo nas manhãs de jogos

A apresentar Portugal e os Descobrimentos, o vinho, a cortiça, o azeite e os milagres de Fátima!  

A recriação dos Pauliteiros.

E do vira!  
A jogar à Cabra-Cega

Lá vai o comboio!
Além do trabalho também tivemos direito a outro tipo de diversão. Obrigado a todos! 

domingo, 18 de agosto de 2013

1° workcamp: os Seniores parte 1ª

Toda a gente tem medo de cuidar de pessoas que dependem de nós, em especial de quem precisa de fraldas, andarilhos, dentaduras, uma grande quantidade de comprimidos, horários para tudo e, para mais, de alguma coisa para fazer durante o dia. 

Tivemos medo de trabalhar com pessoas idosas como qualquer um tem. Foi com apreensão que chegámos e sentimos a presença deles e a proximidade do nosso dia-a-dia com o deles. Tudo agrava esse medo, em especial a dificuldade de comunicação: se é mau o sentimento de que há quem não nos entende pior é o sentimento de que há quem não nos entende e precise de nós. 

A nossa função parecia, apesar de tudo, simples: entreter, animar, motivar e ocupar-lhes o tempo. A parte mais difícil - cuidar da higiene, refeições, casas de banho e afins - foi sempre responsabilidade dos vários assistentes sociais e enfermeiras que trabalham, dia e noite, na Barlička. 

   Os constantes energizers matinais para acordar

O papel desempenhado pelos voluntários nesta instituição cresce de ano para ano. Todos os anos a Barlička recebe jovens para acompanhar os seus clientes, no exercício de uma actividade dura e que requer muito planeamento. Não são só Europeus que aqui são voluntários: numa Europa cada vez mais envelhecida são recebidos voluntários de todo o mundo. 

Em grupo planeámos e organizámos o tempo e o dinheiro para as actividades, lembrando a todo o tempo que na Eslováquia se janta entre as 5 e as 7 da tarde (!), que pelas manhãs vem o Sr. padre para os ouvir e celebrar uma pequena missa - os Eslovacos são bastante religiosos, tantas vezes nos perguntaram sobre os milagres de fátima! -, que são pessoas com alguma idade limitadas na capacidade de fazer certos exercicios e que, muitas vezes, a sua condição mental já não aguenta tudo...

   Tentativas de magias e vários jogos

Mas tudo serviu para os distrair, mesmo quando a sua atenção estava bem longe da nossa presença. Ainda assim jogos como o "Jogo do galo" e a "malha", bem ao estilo Português, sacaram algumas risadas. Quase todas as manhãs fizemos passeios e pinturas, jogos intervalados com energizers - quartos de hora com exercícios para activar a musculatura - e muita, muita dança. Não raras vezes não nos ligavam nenhuma; ficavam a olhar para nós quase que a tentar perceber o que se estava a passar ou simplesmente a tentar adormecer. 

   Quase todos os dias demos passeios nos jardins que circundam a Barlička

O importante era não os deixar parar, antes deixá-los repousar por alguns instantes apenas. Por isso vai um agradecimento muito especial à Olga, a nossa lider Ucraniana, que não descansou uma só vez enquanto houvesse alguém para pôr a mexer. 
Programámos e com eles fizemos manhãs e tardes de magias, estafetas, concursos de história e de música, karaokes e quizzes. Muitas vezes nós faziamos as perguntas e dávamos as respostas, eles ficavam só a olhar para nós, sorrindo de tempos a tempos.


   A apresentação da Espanha a cabo da Raquel 


   Corridas e passeios, um sucesso!

Por entre máscaras, flores e teatros o gelo foi quebrando e a disposição para os ir buscar de manhã, passear e conversar com eles - mesmo sem perceber nada do que dizem - foi aumentando. Começámos a perceber que por entre as palavras em Eslovaco iam incluíndo os nossos nomes, iam perguntando coisas sobre nós e sobre os nossos Países. Começámos a perceber os seus ritmos e feitios, as suas boas e más disposições, os seus dramas e as suas necessidades. 

Formidável foi sentir que se sentem bem com a nossa presen
ça e que procuram por nós e pela nossa atenção! Bastante incrédulos com os caracteres coreanos ou com as danças tradicionais turcas, dançaram ao som de Quim Barreiros e ouviram o nosso Fado.

   Pani Ester e Pan Juraj a jogar com a Raquel e com a Francisca

   Jogo de estafetas por equipas, a competição aguçou-lhes a boa-disposição


Todos os dias cada voluntário fez uma apresentação do seu País para mostrar um pouco da sua cultura. Viram de tudo um pouco da Ucrania, da Espanha, da Coreia da Turquia e de Portugal, a História, os costumes, os pratos tradicionais, as danças e as paisagens que nós fomos mostrando, tentando fazê-los sentir ou, pelo menos, longe daqui e do agora.

Levámos a cortiça e o azeite, o Cristiano Ronaldo e o Manoel de Oliveira, as praias e os castelos, a bôla e os ovos verdes com a confiança e o orgulho em sermos Portugueses. 


   Uma representação bastante fiel dos pauliteiros do norte


    Francisca e Pani Marta em mais uma voltinha 






   Danças e mais danças, desta vez durante a apresentação da Espanha 

   A Branca de Neve e os sete anões

   A Francisca e Pani Anna em jogos de mesa

Temos cada vez mais alegria em estar aqui e em sentir que podemos ser úteis no trabalho com eles. Cresce de dia para dia o sentimento de que toda a gente devia fazer o mesmo ou algo parecido, tal é a importância do papel dos jovens no bem-estar dos mais velhos e a importância dos mais velhos no crescimento dos mais jovens. Os jovens deviam ser motivados para participar em actividades como estas, e em Portugal as instituições deviam ser estimuladas a aceitar voluntários de todo o mundo, dando-lhes a possibilidade de decidirem o que fazer e como fazer na interação com os seus clientes.

Hoje sentímo-nos bastante mais sensíveis e capazes, com uma lição fortemente vincada na nossa mentalidade: o que nós somos já outros foram e todos merecem o mesmo cuidado, suporte e dignidade.