Toda a gente tem medo de cuidar de pessoas que dependem de nós, em especial de quem precisa de fraldas, andarilhos, dentaduras, uma grande quantidade de comprimidos, horários para tudo e, para mais, de alguma coisa para fazer durante o dia.
Tivemos medo de trabalhar com pessoas idosas como qualquer um tem. Foi com apreensão que chegámos e sentimos a presença deles e a proximidade do nosso dia-a-dia com o deles. Tudo agrava esse medo, em especial a dificuldade de comunicação: se é mau o sentimento de que há quem não nos entende pior é o sentimento de que há quem não nos entende e precise de nós.
A nossa função parecia, apesar de tudo, simples: entreter, animar, motivar e ocupar-lhes o tempo. A parte mais difícil - cuidar da higiene, refeições, casas de banho e afins - foi sempre responsabilidade dos vários assistentes sociais e enfermeiras que trabalham, dia e noite, na Barlička.
Os constantes energizers matinais para acordar
O papel desempenhado pelos voluntários nesta instituição cresce de ano para ano. Todos os anos a Barlička recebe jovens para acompanhar os seus clientes, no exercício de uma actividade dura e que requer muito planeamento. Não são só Europeus que aqui são voluntários: numa Europa cada vez mais envelhecida são recebidos voluntários de todo o mundo.
Em grupo planeámos e organizámos o tempo e o dinheiro para as actividades, lembrando a todo o tempo que na Eslováquia se janta entre as 5 e as 7 da tarde (!), que pelas manhãs vem o Sr. padre para os ouvir e celebrar uma pequena missa - os Eslovacos são bastante religiosos, tantas vezes nos perguntaram sobre os milagres de fátima! -, que são pessoas com alguma idade limitadas na capacidade de fazer certos exercicios e que, muitas vezes, a sua condição mental já não aguenta tudo...
Tentativas de magias e vários jogos
Mas tudo serviu para os distrair, mesmo quando a sua atenção estava bem longe da nossa presença. Ainda assim jogos como o "Jogo do galo" e a "malha", bem ao estilo Português, sacaram algumas risadas. Quase todas as manhãs fizemos passeios e pinturas, jogos intervalados com energizers - quartos de hora com exercícios para activar a musculatura - e muita, muita dança. Não raras vezes não nos ligavam nenhuma; ficavam a olhar para nós quase que a tentar perceber o que se estava a passar ou simplesmente a tentar adormecer.
Quase todos os dias demos passeios nos jardins que circundam a Barlička
O importante era não os deixar parar, antes deixá-los repousar por alguns instantes apenas. Por isso vai um agradecimento muito especial à Olga, a nossa lider Ucraniana, que não descansou uma só vez enquanto houvesse alguém para pôr a mexer.
Programámos e com eles fizemos manhãs e tardes de magias, estafetas, concursos de história e de música, karaokes e quizzes. Muitas vezes nós faziamos as perguntas e dávamos as respostas, eles ficavam só a olhar para nós, sorrindo de tempos a tempos.
Corridas e passeios, um sucesso!
Por entre máscaras, flores e teatros o gelo foi quebrando e a disposição para os ir buscar de manhã, passear e conversar com eles - mesmo sem perceber nada do que dizem - foi aumentando. Começámos a perceber que por entre as palavras em Eslovaco iam incluíndo os nossos nomes, iam perguntando coisas sobre nós e sobre os nossos Países. Começámos a perceber os seus ritmos e feitios, as suas boas e más disposições, os seus dramas e as suas necessidades.
Formidável foi sentir que se sentem bem com a nossa presença e que procuram por nós e pela nossa atenção! Bastante incrédulos com os caracteres coreanos ou com as danças tradicionais turcas, dançaram ao som de Quim Barreiros e ouviram o nosso Fado.
Jogo de estafetas por equipas, a competição aguçou-lhes a boa-disposição
Todos os dias cada voluntário fez uma apresentação do seu País para mostrar um pouco da sua cultura. Viram de tudo um pouco da Ucrania, da Espanha, da Coreia da Turquia e de Portugal, a História, os costumes, os pratos tradicionais, as danças e as paisagens que nós fomos mostrando, tentando fazê-los sentir lá ou, pelo menos, longe daqui e do agora.
Levámos a cortiça e o azeite, o Cristiano Ronaldo e o Manoel de Oliveira, as praias e os castelos, a bôla e os ovos verdes com a confiança e o orgulho em sermos Portugueses.
Danças e mais danças, desta vez durante a apresentação da Espanha
A Branca de Neve e os sete anões
A Francisca e Pani Anna em jogos de mesa
Temos cada vez mais alegria em estar aqui e em sentir que podemos ser úteis no trabalho com eles. Cresce de dia para dia o sentimento de que toda a gente devia fazer o mesmo ou algo parecido, tal é a importância do papel dos jovens no bem-estar dos mais velhos e a importância dos mais velhos no crescimento dos mais jovens. Os jovens deviam ser motivados para participar em actividades como estas, e em Portugal as instituições deviam ser estimuladas a aceitar voluntários de todo o mundo, dando-lhes a possibilidade de decidirem o que fazer e como fazer na interação com os seus clientes.
Hoje sentímo-nos bastante mais sensíveis e capazes, com uma lição fortemente vincada na nossa mentalidade: o que nós somos já outros foram e todos merecem o mesmo cuidado, suporte e dignidade.
Espero que esteja tudo a correr bem, aproveita enquanto podes!!
ResponderEliminarUm grande abraço,
Bubas
p.s: Parti-me a rir com os Pauliteiros!